A alegria que brota do coração de Deus

21/11/2015 10:50

A alegria que brota do coração de Deus

Por Pe. Gottardo,sj

 

“Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses não sobra espaço para os outros e para os pobres; já não se consegue ouvir a       voz de Deus nem se goza da alegria do Seu amor” (papa Francisco).   

 

“Nenhum homem possui verdadeiramente a alegria a menos que ele viva apaixonado” (São  Tomás de Aquino). A alegria é uma experiência do coração humano e fruto da felicidade que  ele tanto busca. “A busca de Deus é a busca da alegria. O encontro com Deus é a própria  alegria” (Sto Agostinho). Entretanto, esta alegria depende das opções que fazemos na vida e  da capacidade de vivermos em comunhão com Deus.

Antes mesmo de manifestar-se pessoalmente ao homem mediante a revelação divina, Deus  dispôs a inteligência e o coração da sua criatura para experimentar o dom da alegria, e ao  mesmo tempo, viver em sintonia com Ele, “em espírito e verdade”.Nossa alegria depende,  portanto, do reconhecimento de Deus como nosso Senhor e Criador, pois foi Ele quem plasmou o coração do homem. Com razão Santo  Agostinho, no livro das Confissões, diz: “Por que me criaste para Ti, inquieto estará o meu coração enquanto não repousar em Ti”. 

Jovens presentes no show da Banda Amados do Eterno - Festa de São Virgílio 2015A nossa alegria está em Deus e a cada dia precisamos descobrir e abraçar este dado de fé. Não basta apenas reconhecer e saber intelectualmente que Deus existe, é preciso acolhê-lo em nossas vidas. O nosso coração muitas vezes se encontra cheio de distrações e corrompido pelas coisas mundanas. É bom sempre termos presente a luminosa orientação da Palavra: “O coração do homem planeja o seu caminho, mas é o Senhor quem firma os seus passos (Pr 16,9). Nossos planos somente serão bons se estiverem enraizados n’Ele. Diz-nos o salmista: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam” (cf. Sl 127,1)

Angustiado, triste, amargurado, infeliz e sem sentido estará o nosso coração enquanto não descobrirmos que a alegria verdadeira não está nas coisas passageiras, naquilo que podemos conseguir de imediato ou nas sensações superficiais e pueris. A expressão máxima da felicidade é a alegria. Será que nós cristãos somos felizes? O filósofo alemão, F. Nietzsche, fez diagnóstico bastante sério: “Temos sentido muito pouco alegria. Este, somente, é o nosso pecado original. A alegria é uma necessidade de todos os homens”.

O saudoso papa Paulo VI, na exortação apostólica sobre a alegria cristã, afirmou: “As dificuldades para se alcançar a alegria tornam-se pungentes de modo especial nos dias de hoje. É essa a razão da nossa mensagem. A sociedade tecnológica teve a possibilidade de multiplicar ocasiões de prazer; no entanto, ela também encontra grandes dificuldades em experimentar alegria. Pois esta provém de outra fonte. A alegria é espiritual. Assim, o dinheiro, o conforto, o bem estar e a segurança material muitas vezes não faltam e, apesar disso, o tédio, o mau humor e a tristeza, infelizmente, continuam sendo a ânsia de muitos”.Muitas pessoas vivem frustradas e/ou depressivas por cometerem equívocos fatais: “A alegria não está nas coisas, está em nós” (J. Goethe).

Em determinada ocasião uma pessoa curiosa perguntou ao guru do Tibete, Dalai Lama: “O que mais te surpreende na Humanidade?” E ele respondeu, com notável sabedoria: “Os homens. Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido”. Trágico! No entanto, as perguntas se multiplicam: Como viver a alegria em meio a tantos sofrimentos, cataclismas naturais, desigualdades sociais, em um mundo marcado pela dor e pelas incríveis injustiças, onde os valores morais, até mesmo o direito à vida, se tornam produtos descartáveis?

Apesar das injustiças e calamidades atuais, sobretudo da via sacra de tantos jovens – que com sua pouca idade são forçados pelas circunstâncias a enfrentar um mundo de amarguras e de tristezas – nada nos impedirá de falar e esperar pela alegria que homem algum é capaz de oferecer, da alegria que brota da esperança em um Deus que ama e jamais abandona a sua criatura. Para além das nossas murmurações, a alegria de Deus é que nos convertamos. Ele festeja: “Alegrai-vos comigo, achei a ovelha perdida” (cf. Lc 15,6). O papa Francisco não se cansa de repetir: “A nossa alegria é ser discípulos e amigos de Jesus”. Só ser simpatizante de Jesus não basta!

“Servi a Deus com alegria” (cf. Sl 100,2). A vida na presença de Deus é plena de alegria, mesmo “se a cruz pesado for”. Na qualidade de cristãos/ãs somos discípulos de Cristo: “Aquele que quiser me seguir renuncie a si mesmo, tome a cada dia sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). No entanto, com alegria, corramos ao seu encontro e não nos esqueçamos de que “a verdadeira felicidade vem da alegria de atos bem feitos, do sabor de criar coisas renovadas” (Antoine de Saint-Exupéry).

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